Moda sustentável: mais que uma opção, uma necessidade

Fazer moda sustentável envolve um olhar atento e cuidadoso para cada etapa do processo de produção. Desde a fabricação da matéria prima, até o processo de tingimento, corte, costura e descarte. Todo o impacto que essa produção traz ao meio social e ambiental em que está inserida, deve ser avaliado. 

Antes de mais nada, a moda sustentável não deve ser vista como uma “tendência” e sim como uma necessidade de mudança e ressignificação diante do cenário atual. Da mesma maneira que todos os demais setores produtivos precisam repensar suas práticas, com a indústria da moda não seria diferente. 

Sim, porque se engana quem pensa que ao falarmos sobre moda e sustentabilidade, estamos preocupados apenas com problemas relacionados ao meio ambiente. A moda sustentável envolve também toda a questão social, o combate ao subemprego, ao trabalho escravo e a busca pelo desenvolvimento socioeconômico de todas as pessoas envolvidas no processo de produção.

Exposição: “Fast-fashion, the dark side of Fashion”

Exposição: “Fast-fashion, the dark side of Fashion”

Do fast fashion aos impactos causados pela indústria da moda 

Foi na década de 90 que o conceito de “fast fashion” ganhou força. Em uma economia baseada no consumo excessivo, os consumidores se tornavam cada vez mais ágeis e impacientes. Com isso, as coleções das grandes marcas passam a ser reproduzidas de forma rápida e com baixo custo. Segundo a revista Forbes, as peças de fast fashion são usadas em média 5 vezes pelos consumidores e geram 400% mais emissões de carbono do que as roupas de marcas “slow fashion” (que são usadas por 50 vezes, aproximadamente). 

Os tecidos que precisamos ficar mais atentos são o poliéster, a viscose e o algodão convencional.

Poliéster

Vale dizer que a indústria da moda é responsável por 8% da emissão de gás carbônico na atmosfera, estando atrás, apenas, do setor petrolífero. Além disso, o poliéster, usado em larga escala pelo mercado de fast fashion, é a representação de como uma fibra pode se tornar um grande problema ambiental: são necessários mais de 200 anos para que ele se decomponha. Imagine o tamanho do impacto, quando sabemos que - já durante a fabricação das roupas - cerca de 25% da matéria prima é descartada. Isso sem falar nas roupas que serão desprezadas também pelos consumidores. Atualmente, o uso de fibras recicladas na indústria da moda é baixíssimo, apenas 14%.

Poliester é plástico - Blog da Ki Roupa de Yoga Sustentável - Moda Sustentável

Viscose

Outra fibra que merece ter seu uso questionado, quando falamos em moda sustentável, é a viscose. Sua produção ocorre através da extração da celulose presente na madeira de árvores com rápido crescimento. O problema é que 30% dessas madeiras são retiradas de florestas nativas e ameaçadas de extinção. Ou seja, temos um cenário de matas tropicais sendo invadidas, desmatadas e destruídas para fabricação de viscose. O Brasil é um dos maiores exportadores de polpa de viscose do mundo. Essa produção, além do desmatamento, envolve também o uso de diversos produtos químicos, que são constantemente despejados no ambiente sem os cuidados necessários.

Algodão Convencional

Não é só por ser 100% algodão que um tecido é sustentável. O algodão convencional é produzido com uma quantidade cavalar de agrotóxicos cancerígenos que contaminam o solo e os lençóis freáticos, e que, em sua cultura extensiva já matou um sem número de famílias produtoras. 

 

Resíduos da indústria têxtil

Dados da Associação Brasileira de Indústria Têxtil (ABIT), indicam que, no Brasil, a indústria da moda gera 175 mil toneladas de resíduos têxteis por ano. Isso sem falar nos problemas relacionados à mão de obra. Constantemente pessoas, muitas vezes imigrantes, refugiados e mulheres em situação de risco, são encontradas exercendo trabalho escravo ou trabalhando sem direitos e mal remunerados. Em 2020, apenas em São Paulo, 178 mulheres foram resgatadas nessas condições. Imagine isso multiplicado por diversas cidades no mundo inteiro?

Moda sustentável na Ki

A sustentabilidade é o principal pilar da existência da Ki. Somos uma marca de roupas que entende e trabalha para mostrar aos consumidores como as roupas que escolhemos, consumimos e usamos, também são parte do problema atual e causam grande impacto no mundo em que vivemos.

Para a Ki, a moda sustentável não é uma opção e sim a única maneira viável de produzir roupas de forma consciente. Além disso, yoga e sustentabilidade são práticas totalmente interligadas. Não faria sentido para nós, produzir roupas indicadas para essa prática, que não estivessem de acordo com tudo que ela representa.

Processo de Produção

Atualmente, produzimos peças para quem busca se vestir de forma confortável e consciente. Focamos em um estilo casual e esportivo, que possa acompanhar as pessoas no dia a dia e também nas práticas de yoga, pilates e outras atividades físicas.

Vale lembrar que, para chegarmos a um processo de produção respeitoso com pessoas e com o planeta, foi preciso olhar com muito cuidado cada mini etapa dessa jornada. Dessa forma, produzimos nossas peças com práticas que minimizem as agressões ao meio ambiente, que focam na reutilização de recursos, na economia de água e no trabalho remunerados de forma justa.

Parcerias

Para escolher nossos parceiros e fornecedores na produção, seguimos uma linha de raciocínio que prima por uma remuneração justa, calculada em cima de um valor que a oficina sugere, e não ao contrário.

Parece algo pequeno, mas faz muita diferença na prática. Veja esse exemplo: em São Paulo, algumas costureiras chegam a receber ofertas de serviços de conjuntos de moletons a R$ 0,25 centavos a peça (isso mesmo!), e nós trabalhamos, no interior, com peças variando entre R$ 9,00 e R$20,00 a unidade costurada, com insumos por nossa conta. Lógico que esses valores podem variar muito dependendo do tipo de tecido, de peça e de costura feitos. Mas buscamos desde o início encontrar o equilíbrio para garantir condições de trabalho adequadas, preços e prazos justos para ambos os lados.

Tingimento com água de reúso

Outro ponto relevante é que damos preferência ao tingimento feito com água de reuso. Essa medida, que é um projeto da Sabesp, evita que a água utilizada no processo volte a ser escoada para os rios (podendo colorir e causar danos aos mesmos).

O cuidado com as matérias primas

Para estar em sintonia com os conceitos de moda sustentável, o cuidado com a seleção das matérias primas é crucial. Na Ki utilizamos fibras naturais e sintéticas, porém questionamos cada detalhe sobre a produção dos tecidos e os impactos causados pelos mesmos. Na linha Bio, utilizamos o Amni Soul Eco, o primeiro fio de nylon biodegradável do mundo. Ao ser descartado, ele se decompõe em até 3 anos, enquanto outros tipos podem levar até 100 anos no ambiente.

Também optamos pelo uso do PET Reciclado e do algodão certificado pelo BCI (Better Cotton Initiative), que garante uma produção mais consciente e sustentável dessa fibra. Outro fio utilizado em nossas peças é o Emana Ⓡ, presente na linha Energy. Sua função é devolver ao corpo a energia que o corpo emana, trazendo uma série de benefícios à saúde. Isso porque a funcionalidade dos fios também faz de uma peça algo sustentável. Trabalhamos com tecnologia anti odor e, por isso, nossas roupas não acumulam cheiros. Essa característica torna o cuidado muito mais simples, com menos lavagens e menor gasto de água.

Porque usar embalagens com compensação ambiental

Para nossas embalagens, escolhemos trabalhar com material reciclável e reciclado, que podem ser reaproveitados pelas clientes. Além disso, temos parceria com o selo eureciclo, que garante a compensação das embalagens utilizadas.

As marcas que trabalham em parceria com o selo, destinam recursos para o desenvolvimento da cadeia de reciclagem, auxiliando na Política Nacional de Resíduos Sólidos, que tem a meta de 22% de logística reversa das embalagens geradas pelas empresas brasileiras.

A mudança também depende de quem consome

Por fim, vale lembrar que os consumidores possuem um papel fundamental na mudança que queremos ver na moda e em todos os setores da economia. Cabe a nós também o questionamento dos nossos hábitos de consumo.

A moda sustentável é uma via de mão dupla. Dessa forma, é muito importante que cada um faça a sua parte. Questionar, se informar, buscar saber mais sobre o impacto de cada produto que você leva para dentro da sua casa, é um direito seu e também um dever para quem está na posição de escolher o que vai consumir. Cuidar bem das suas roupas para aumentar seu tempo de uso também é uma atitude sustentável. Precisamos nos unir nesse caminho em busca de uma sociedade mais justa e sustentável, para a moda e para todos.